quinta-feira

Aos 82 anos, Terezinha Lopes vive um situação peculiar. Está convicta de que sua ex-empregada doméstica será a futura presidente do Brasil. Dona Terezinha e seu marido, Dagmar, foram os primeiros patrões da candidata do PSB à Presidência, Marina Silva. A residência simples e espaçosa em Rio Branco que, em 1976, Marina costumava limpar foi convertida em uma Casa de Marina, comitê eleitoral voluntário da candidata. Só está faltando um detalhe:

— Você trouxe algum material de campanha aí pra eu distribuir? — perguntou dona Terezinha ao GLOBO.

Diante da negativa, reclamou de que desejava fazer mais campanha. O adesivo que ostenta na porta de entrada da casa é de 2010. Dona Terezinha tem tentado acompanhar todas as aparições de Marina na televisão, ainda que, para isso, tenha que ficar acordada até depois de meia-noite, algo totalmente fora de seus hábitos. Também se esforça para lembrar, ao lado do filho Heimar, um técnico agrícola de 63 anos, dos detalhes dos período em que conviveram com Marina.

Assim que veio do Seringal Bagaço para Rio Branco, capital acriana, com o objetivo de se tratar de uma hepatite, Marina se hospedou junto a dois tios. As casas eram simples e estavam sempre lotadas de parentes. Então, Marina tomou a decisão de procurar um outro abrigo.
— A gente precisava de uma empregada doméstica, mas não tinha condição de pagar. Daí a Marina surgiu, e, em troca do trabalho dela, tinha onde morar. Mas o velho (Dagmar) sempre dava uns trocadinhos para ela — conta dona Terezinha.

Com os “trocadinhos” acumulados, Marina comprou um pequeno enxoval com o qual se mudaria, mais tarde, para o Convento das Servas de Maria Reparadora. O emprego de Marina, que durou um ano, segundo a patroa, era totalmente informal, e fere as leis trabalhistas atuais, mas era um arranjo comum à época.

— Eu não puxava demais pro serviço, não, porque a bichinha era fraquinha e podia quebrar. Ela devia ter 16 anos, mas era tão pequena que dava a impressão de que era mais nova.
Embora ainda não tenha visto o plano de governo de Marina, dona Terezinha está convicta de seu voto. Ela não sabia, por exemplo, que havia uma posição diferente de Marina em relação ao casamento gay:


— Eu não estou nem aí, para mim pode homem com homem e mulher com mulher. Eu sou uma antiga com cabeça moderna — disse, rindo.


Confrontada com o fato de que a Bíblia condena uniões entre homossexuais, o que motivaria Marina a ser pessoalmente contra o casamento gay, uma das grandes polêmicas da campanha, dona Terezinha disparou:

— A Bíblia foi o homem que escreveu, não foi Deus. Para mim cada um faz o que quer.
A divergência com a candidata, no entanto, não a abalou. Dona Terezinha acredita que a humildade e a honestidade que viu na adolescente continuam presentes em Marina. Para a ex-patroa, isso sim é uma característica importante para o chefe do Executivo.


Fonte: O Globo

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